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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Grandes Craques - Alberto Simões

Imagine a narração elegante de Waldir Amaral aliada ao lirismo exalado pelo microfone de Oduvaldo Cozzi. Agora desfaleça a miragem e ligue o rádio, pois esta combinação está ao alcance dos tímpanos.

O tal “indivíduo competente”, como diria Amaral, é autor de um sotaque inconfundível, de um jeito Alberto de Souza Simões de falar. Não há outra maneira de definir a locução deste joseense do Pará, que há quase 50 anos pronuncia o idioma do esporte do Vale do Paraíba.

Por conta de eventualidades profissionais de seu pai, atuante na área contábil, em 1962 o menino Alberto deixou para trás Belém, o Remo e as boas lembranças de arquibancada cunhadas à companhia paternal.

A nova sede da família, composta por sete membros, foi a cidade de Osasco. Pouco tempo, diga-se; logo seu pai fora elevado à Serra da Mantiqueira, onde, em Campos do Jordão, Simões começaria a soltar seus primeiros fraseados no rádio.

No entanto, novamente a contabilidade tracejou o destino da família, amarrando as cordas vocais de Alberto Simões em São José dos Campos. A princípio, na Rádio Piratininga, sob a tutela de Wilmar Araújo.

Lá, o narrador fez seu primeiro trabalho profissional, numa partida de futebol amador disputada no campo da Rhodosá - Estádio Dr. Roberto Moreira-, debaixo de choques, chuva e noite trovoada. No futebol profissional, a estreia veio a 31 de janeiro de 1965, no cotejo entre São José e Palmeiras de Santa Bárbara.

Por esforços do acaso, três meses depois, ainda com 17 anos, Alberto fora convidado pela Rádio Clube (depois Bandeirantes) a conduzir a equipe de esportes da emissora. E eis que seu jogo inaugural deu-se, também, entre o time da cidade e o de Santa Bárbara do Oeste. Uma coincidência digna dos curiosos rodapés da crônica esportiva.

Seu padrinho nas transmissões não poderia ser de melhor estirpe. O primeiro comentarista com quem dividiu cabine foi Matarazzo Filho, irmão gêmeo da oratória. Simões conta que o estádio não se levantava até o ponto final do crítico.

Posto líder, a contribuição primeira e mais longeva de Alberto à emissora foi o programa Parada dos Esportes, que há 45 anos conversa diariamente com a torcida valeparaibana.


Desde esta aurora radiofônica, o locutor emprestou seus graves e agudos a nomes como Edvar Simões, Pedro Yves, Peninha, Zé Geraldo e Ubiratan, do basquete masculino; Amelinha e Tânia do feminino; Neusa, Carmen Lúcia e Nazaré, do vôlei; Tião Marino, Zé Luís Pantera e Leão, do São José Esporte Clube, e a tantos outros que suaram uniformes pela cidade, que bateram asas com a “Águia” ou fizeram “chuá”, no balaio adversário.

Apesar de ser um município tradicionalmente esportivo, com medalhistas olímpicos, pan-americanos e atletas de nível nacional, São José apresenta uma sazonalidade em seu desempenho. Muito por conta de más gestões e insuficiência de investimentos.

Atualmente, os aplausos da torcida são para o time de basquete da Associação Esportiva e o São José Futsal. Ambos encontraram espaços na agenda semanal do joseense, dos anunciantes e da prefeitura. E claro, ganharam afinação na voz de Alberto Simões, que preserva o fôlego daquele menino de 17 anos a cada jornada do basquete da cidade.

Apesar de vigilante, o jornalista e professor de história acende esperanças aos próximos anos. Acredita que o futebol profissional do município esteja em mãos, que se não ideais, corretas e com credibilidade. Assim como o basquete, que tem entrosado qualidade, tradição e organização.

Ao se praticar transparência e políticas de incentivo, o craque do microfone acredita que surjam apoio e possibilidade de manutenção de equipes competitivas, que preencham a temporada esportiva.

O pesquisador, jornalista, escritor e professor se confunde com a própria fonte de estudo; difícil destacá-lo da história. Pois cada grama dos estádios do Vale do Paraíba orvalha sua musicalidade. Cada canto dos ginásios espalhados pela região abraça o eco desta voz que dá timbre ao esporte.


São tantas passagens e memórias, que Alberto Simões parece ter um centenário de vida dedicado à narração. Sensação causada apenas pelas vozes nascidas imortais.

Um comentário:

Anônimo disse...

GRANDE TEXTO!



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