Ano de 1920. Entre o nascimento de João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector, era enviado ao mundo outro artista: o poeta da bola Heleno de Freitas.Mineiro de São João Nepomuceno, cresceu em família abastada. Se hoje, sua cidade Natal soma 30 mil habitantes, o que dizer da contagem nos anos vinte.
Como era costume, ainda jovem mudou-se ao Rio de Janeiro, onde se tornaria advogado.
Contudo, seguir leis e padrões não era da natureza do “bon vivant”. Heleno optou pela bola e o Botafogo, em 1937.
O sempre alinhado galã da boemia carioca desfilava esguio nos gramados da capital do país.
Apesar da elegância, não era um modelo jogador de futebol, muito menos um jogador modelo. Por onde passou, praticou gols e opositores. Bem verdade que, cientes do temperamento de Heleno, alguns atentavam seu equilíbrio.
No Glorioso, em 235 jogos disputados, conquistou 209 gols e a inimizade de Nilton Santos e outros tantos.
Heleno também defendeu a seleção brasileira. Foram dois títulos e 15 gols, em 18 partidas.
Em 1948 fez temporada no Boca Juniors.
No ano seguinte, de volta ao Brasil, tentou retornar a General Severiano, mas a porta estava fechada ao atleta. Feneciam as chances de conquistar títulos pelo Glorioso, uma de suas grandes paixões.
Heleno foi afogar as mágoas na Colina.
O Vasco da Gama do “Expresso da Vitória”, dono do futebol da segunda metade dos anos 40, recebia o centroavante em 1949. Ano em que Heleno fora finalmente campeão carioca - em 20 jogos, aquele Vasco marcou 84 gols.
Mesmo no sucesso, Heleno voltou a criar animosidades; São Januário não quis mais o craque no gramado. Foi sua última temporada inesquecível ao futebol.
Heleno pisou os anos dourados coberto de problemas pessoais.
Santos, Atlético Junior de Barranquilla e América ainda acreditariam no atleta, mas o vício e a sífilis erodiam a esposa, o filho e o brilho de Heleno.
De tanto enlouquecer seus marcadores, Heleno quem louco ficou.
Em 1952 levou cartão vermelho da bola, da boemia, da sociedade e da família. Alojado em hospital na cidade de Barbacena, aguardou na insanidade sua morte severina.
Sete anos depois, enquanto o Botafogo tombava na final do carioca, a estrela solitária Heleno de Freitas subia à memória eterna do futebol brasileiro.

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